Her, uma análise além de Samantha
Passei muito tempo sem atualizar o blog mas resolvi que esse filme merecia um espacinho por aqui:
Depois de muito tempo, resolvi
assistir "Her" (2013) em sua totalidade para analisar sua fotografia e
inserir o filme de exemplo em um trabalho de Teoria da Cor, foi então que me
surpreendi. Ao me doar por duas horas, sem pré-conceitos, noções pré-formadas
por críticas ou elenco, foi que pude compreender a fragilidade de “Her” e seu
uso acolhedor de vermelhos para me inserir por completo na vida de Theodore
Twombly.
Em um primeiro momento, nos
deparamos com estranheza e superficialidade para o relacionamento entre
Theodore e Samantha. Nos é estranho, frívolo e, até mesmo, desesperado,
depender de um Sistema Operacional para conseguirmos nos sentir vivos e nos
relacionarmos... será mesmo?
Quando assisti, no ano anterior,
não fui capaz de compreender o quão raso é ter essa percepção do filme, e
acreditar que toda a sua história gira em uma crítica a imersão provocada pelo
anseio da humanidade em permanecer “conectada”. Algo dentro de mim, fazia com
que eu sentisse pena de Theodore , uma pena que não me tornava empática e sim
arrogante perante sua dor, que fez com que eu me visse superior por constituir
relações “reais” e não conseguisse me identificar com a personagem, que me
parecia distante e irreal. Eis ai, meu primeiro tapa na cara.
Não sei explicar o que mudou em
mim de um ano para cá, que possa justificar toda essa minha mudança de
perspectiva e as lágrimas que derramei ao acompanhar o desenvolver desse
relacionamento entre Theodore e Samantha, mas algo aconteceu e me mudou... para
melhor.
Quando nos colocamos no lugar da
personagem principal, podemos claramente acompanhar sua evolução e desenvoltura
perante a ideia de relacionar-se, sentir e se entregar ao outro, coisas que
hoje, com a conectividade e isolamento excessivos, é difícil de se fazer. Theodore
acusa-se durante todo o filme de ter deixado sua ex-mulher, Catherine, viver um
relacionamento unilateral, onde ele mostra-se ausente e deixando-a carregar o
sentimentalismo da reação.
A culpa, que acarreta em um
doloroso divórcio, faz Theodore se afastar de seus amigos e isolar-se em
músicas melancólicas e, posteriormente, em Samantha. Quando Theodore começa a
se envolver sentimentalmente com sua SOs percebemos ali, o início do que pode
muito bem, ser um relacionamento meu, seu e do seu pai, irmão, oras, tem coisa
mais comum hoje que um relacionamento virtual? Ele começa então a explorar e
sentir seus erros, a amargura do relacionamento anterior e passa a solucioná-lo
com Samantha.
Foi quando chorei a primeira vez.
Em uma noite de amor, na troca de experiências e na primeira noite como casal
de Theodore e Samantha, foi que pude perceber o quanto um relacionamento vai
além do toque, dos corpos e do calor. Ela nunca foi real, nunca foi palpável,
nunca foi uma presença física na vida dele mas fez seu mundo virar de cabeça
para baixo, fez com que ele sentisse vivo depois de muito tempo e, graças a
ela, de maneira positiva ou negativa, ele pode suspender sua vida “real” e
colocar-se perante ela como espectador.
Ok, então a crítica a imersão em
um mundo digital era positiva pois ele se afastou do mundo real e pode
encontrar sua felicidade? Nop! Ele encontra uma felicidade temporária ao suspender-se do
mundo real, mas o que o faz evoluir e tornar-se uma pessoa melhor é o baque de
voltar ao mundo real com o desligamento de Samantha.
Novamente, me vi chorando ao
acompanhar a desenfreada corrida de Theodore por seu Sistema Operacional, mas
foi também ali que percebi o quão surreal está sendo viver nos dias de hoje,
devido ao desejo de conectar-se da humanidade. Não se vê mais conversas, não se
troca mais conhecimento no ponto de ônibus com aquela simpática senhorinha
carregada de sacolas, o que temos hoje são fones de ouvido e um milhão de
possibilidades na ponta dos dedos, possibilidades essas... desperdiçadas.
Quando Theodore perde Samantha,
ele passa a perceber novamente o mundo real e dessa vez, faz parte dele. No
começo do filme, Theodore era vítima de seus sentimentos, não sabia lidar com
“sentimentos reais” e isolou-se em um mundo virtual, agora temos a personagem
mais madura, pronta para assumir a fragilidade de relacionamentos humanos e a
começar uma vida nova.
Isso fica extremamente claro
quando ele pede desculpas para Catherine, onde expõe suas falhas e admite ter
esperado mais do que ela pode dar naquele relacionamento, erro comum tido por
nós hoje, onde conhecemos as pessoas pelo que postam em redes sociais, e temos
por relacionamento um belo texto escrito no “tumblr”, cartas escritas por
outras pessoas mas que não passam de uma tentativa desesperada de sentir e
lidar com anseios reais - mas se afastando deles, colocando-se como vítima
quando na verdade, em um relacionamento, é preciso haver entrega,
comprometimento e flexibilidade para aceitar a outra pessoa como ela realmente
é, desvista por uma película ou tela de celular, só assim podendo evoluir,
tanto como pessoa, quanto como um casal.
Hello there,
ResponderExcluirO filme Her nos deixa atento ao percebermos que esta realidade "alternativa futura" está mais próxima do que imaginamos, na verdade parte de tudo vivenciado pelo personagem principal já vivenciamos em nossas relações (como você muito bem pontuou).
"No começo do filme, Theodore era vítima de seus sentimentos, não sabia lidar com “sentimentos reais” e isolou-se em um mundo virtual, agora temos a personagem mais madura, pronta para assumir a fragilidade de relacionamentos humanos e a começar uma vida nova."
Pensei nisso quando saí do cinema e pensei: "Samantha foi aquele relacionamento que no final, o que sobre se torna mais forte e pronto para seguir." Uma relação necessária. As dificuldades de relação entre ambos os personagens são dificuldades que vivemos no cara-a-cara, as pessoas muitas vezes se limitam o filme a observar apenas a "doentia relação homem-máquina".
Tive amigos que comentaram justamente a respeito de escreverem cartas para outras pessoas. E comentei justamente: quando compartilha uma imagem para alguém que gosta, não é a mesma coisa? Você não está tentando traduzir algum sentimento?
Bem, é um filme completo e com várias nuances a serem abordadas. Mas adorei o post :) Parabéns!!!
Abs